Daniel Munduruku abriu a WTM Latin America com debate sobre ancestralidade

Escritor premiado, professor, filósofo e mestrando em Antropologia Daniel Munduruku tem lugar de fala quando o assunto é a diversidade cultural indígena. Integrante da nação Munduruku, um dos maiores nomes do ativismo indigenista da atualidade subiu ao palco do Teatro Technology para falar sobre ancestralidade durante a abertura da WTM Latin America, que ocorre sob a temática “The Future is Open. Be the Change”, entre 15 e 17 de abril, no Expo Center Norte, em São Paulo.

Daniel explicou que a ancestralidade é o pertencimento a um sistema de pensamento que vem sendo elaborado através dos tempos e está intrinsicamente ligada à nossa identidade enquanto povo. “Ter uma identidade é saber as origens nas quais estamos inseridos. Por isso se diz, com razão, que um povo sem memória está sujeito ao fracasso. Um povo sem identidade é aquele que não honra sua memória ancestral”, pontua.

Durante a palestra, ele apresentou a cosmovisão dos povos indígenas baseada na pedagogia do pertencimento – uma filosofia construída ao longo dos séculos que garante a ligação de cada um de nós a uma teia invisível e que não nos permite abrir mão de nossa sabedoria ancestral – e lançará questionamentos sobre o tipo de sociedade que criamos ao longo do tempo. “Ela foi excluindo os saberes que podem nos ajudar a sermos humanos melhores”, alerta.

Ele defende que o turismo é uma importante ferramenta na construção dessa identidade nacional e na transformação de cada indivíduo em parte responsável pela manutenção de seu território e guardião da memória ancestral.

 

“Ao apresentar os diferentes biomas e paisagens, o turismo pode provocar nos usuários a visão indígena do pertencimento, a inserção da natureza na vida das pessoas e criar uma ideia de preservação para além da exploração ambiental até chegarmos à integração ao lugar onde vivemos”, defende Daniel.

Para ele, a integração dos indígenas ao turismo é possível com uma simples inversão de fatores. “O turismo quer adequar os indígenas às suas regras e é aí que mora o problema desde sempre. O mercado precisa inserir os indígenas em sua compreensão de negócio, pois é só assim que a equação se resolverá de fato”, sugere, reforçando que os indígenas precisam ser tratados como protagonistas dentro do universo do turismo – e não como objetos.

 

“Equalizar de forma mais eficiente e humana é o grande desafio para que os indígenas se sintam mais valorizados e reconhecidos em seu importante papel de guardiões da memória ancestral”, finaliza.

“O tema dialoga com a premissa da WTM Latin America de valorizar a nossa diversidade e em investir em soluções que conversem com a realidade dos países latino-americanos, reforçada neste ano com a inclusão de novas categorias ao Prêmio de Turismo Responsável e com o lançamento da Rota da Diversidade”, lembra Bianca Pizzolito, head da WTM Latin America. “A estratégia também se conecta ao tema escolhido para a edição que fala sobre a construção do futuro, chamando cada player da indústria para ter um papel ativo na mudança que queremos construir, para a indústria que almejamos ver”, finaliza.

Gratuito e obrigatório para a visitação, o credenciamento já está disponível pelo site, a partir de páginas em português, inglês ou espanhol.