COP30 em Belém: Entre o Protagonismo Climático e os Desafios da Hospitalidade
Por Ariel Figueroa, editor.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025 na cidade de Belém, no Pará. O evento, considerado o mais importante do mundo sobre mudanças climáticas, reunirá chefes de Estado, autoridades ambientais, cientistas, ativistas e representantes de mais de 190 países. A COP (Conferência das Partes) é promovida anualmente pela ONU para debater o progresso na implementação do Acordo de Paris e discutir metas globais para conter o aquecimento do planeta.
A escolha de Belém como sede da COP30 não foi apenas simbólica, mas estratégica. Pela primeira vez, a conferência será realizada na Amazônia — região que representa o maior bioma tropical do planeta e um dos principais ativos ambientais globais. O Brasil, ao se colocar como anfitrião, busca reforçar sua imagem de liderança ambiental, destacando o papel da Amazônia na regulação climática, na biodiversidade e na segurança hídrica mundial.
No entanto, o entusiasmo político e simbólico contrasta com desafios estruturais que começam a preocupar delegações estrangeiras e especialistas em logística de grandes eventos.
Malha aérea limitada e preços elevados
Apesar da importância da escolha amazônica, Belém enfrenta gargalos significativos em infraestrutura. A malha aérea da cidade é limitada, com voos diretos principalmente a partir de capitais brasileiras, o que já acende um alerta quanto à capacidade de absorver a alta demanda internacional. O Aeroporto Internacional de Belém deverá ser modernizado até a conferência, mas ainda há incertezas sobre sua real capacidade de atender à complexidade logística do evento.
Outro ponto crítico tem sido a explosão nos preços da hotelaria local. Com a aproximação da COP 30, muitos hotéis reajustaram valores em até 500%, segundo denúncias recebidas por delegações africanas. Um grupo de países do continente enviou uma carta formal à ONU e ao governo brasileiro demonstrando preocupação com a “exclusão indireta” de participantes de países em desenvolvimento devido aos altos custos de hospedagem na cidade-sede.
Inclusão e equidade em risco
A carta das nações africanas, tornada pública recentemente, destaca que o aumento abusivo nos preços da hotelaria pode comprometer a equidade e a representatividade da COP 30 — princípios basilares do evento. Para muitos desses países, já impactados severamente pelas mudanças climáticas, participar da conferência é vital, mas se torna inviável diante da escalada nos custos logísticos e de estadia.
Respostas e alternativas
Diante da repercussão negativa, o governo brasileiro afirmou estar dialogando com a iniciativa privada e com governos locais para conter os aumentos e promover alternativas de hospedagem mais acessíveis. Medidas como o incentivo a hospedagens solidárias, ampliação de voos charter, instalação de vilas temporárias e parcerias com universidades estão sendo estudadas para democratizar o acesso ao evento.
A COP 30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil reforçar seu papel no enfrentamento da crise climática e dar voz à Amazônia. No entanto, para que esse protagonismo seja legítimo, é necessário garantir que todos os países — especialmente os mais vulneráveis — tenham condições reais de participar da construção de soluções globais. Afinal, clima se discute com justiça, não com barreiras invisíveis.





